Bebidas de cacau: de onde surgiram?
As civilizações Olmeca, Maia e Asteca da América Central e do Sul cultivaram durante longos anos um fascínio pelo cacau, transformando as suas sementes em bebidas complexas e deliciosas, que eram presença garantida na vida social, religiosa e política destes povos.
Quem eram estes povos?
Vestígios arqueológicos evidenciam que o consumo de bebidas de cacau faz-se há mais de 4000 anos. Quatro mil anos! Os Olmecas terão sido a primeira civilização a domesticar o cacaueiro e as bebidas de cacau que faziam eram utilizadas para fins medicinais e cerimoniais. Num sítio arqueológico Olmeca, situado no México, foi encontrado um recipiente de cerâmica, datado de 1900 a.C, que evidencia a preparação de cacau como uma bebida.
Mas foram os Maias e os Astecas que deixaram um maior legado quanto ao uso do cacau.
O império Maia formava uma série de cidades-estado independentes e localizava-se na região da Mesoamérica, que hoje inclui o sul do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. Era uma civilização avançada com conhecimentos de matemática, astronomia, escrita e arquitetura. Ficaram conhecidos pelas pirâmides, templos, calendário e sistema de escrita hieroglífica. O período da civilização Maia estendeu-se de 250 a 900 d.C..
Para os Maias o cacau era mais do que um simples ingrediente. Era considerado um alimento sagrado, um presente dos deuses. Era um símbolo de status, riqueza e poder. Consumiam cacau em cerimónias religiosas, casamentos e funerais, faziam oferendas aos deuses, acreditavam que as bebidas de cacau eram energéticas e que aumentavam a força e a resistência, atribuíam-lhe propriedades afrodisíacas e eram usadas como medicamento para tratar doenças e aliviar dores.
O cultivo e comércio de cacau eram atividades tão importantes na economia Maia que as sementes de cacau eram usadas como forma de pagamento. Cem grãos de cacau dava, por exemplo, para comprar um escravo.
Em 2019, um estudo publicado na revista "Nature Plants" por arqueólogos da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Brown revelou a descoberta de sementes de cacau falsificadas em túmulos Maias. As sementes, datadas de 600 a.C., foram encontradas em sítios arqueológicos no Belize e na Guatemala. As análises científicas revelaram que as sementes eram feitas de argila e cobertas com uma fina camada de cacau em pó. A razão para a falsificação das sementes ainda é um mistério. Mas as hipóteses incluem: escassez de cacau, valor simbólico ou fraude.
Para os Maias a preparação da bebida de cacau era um processo meticuloso. As sementes eram fermentadas, secas, torradas, tal como acontece hoje, e depois moídas num metate e misturadas com uma variedade de especiarias, como canela, pimenta, baunilha e adoçadas com mel. A pasta resultante era então misturada com água quente e deitada de jarro em jarro para formar uma espuma. Muitas destas tradições ainda são praticadas em locais onde ainda existem comunidades maias.
Depois dos maias seguiram-se os astecas que tiveram a sua ascensão em 1428 quando as cidades-estado da região central do México se uniram, formando o Império Asteca. Esta união resultou numa potência militar e económica que prosperou durante quase um século, expandindo o seu território e construindo cidades como Tenochitlán e Teotihuacan, que hoje são sítios arqueológicos que preservam a história Asteca. Deixaram grandes avanços na arquitetura, escrita, astronomia e matemática.
Os astecas preparavam a bebida de maneira semelhante aos maias. Também eles moíam o cacau com outras especiarias e misturavam com água, despejando de jarro em jarro para fazer espuma. A diferença está que os astecas consumiam a bebida fria enquanto os maias a bebiam quente.
Tal como os Maias, os Astecas também usavam as bebidas de cacau em contexto ritualísticos mas a bebida estava destinada apenas à elite. Eles consideravam a bebida de cacau um dádiva dos deuses e acreditavam que ela tinha poderes afrodisíacos. Consta que Moctezuma II, imperador asteca em 1519, consumia 50 chávenas de cacau por dia!
E foi com esta bebida que recebeu Hernán Cortés quando este chegou ao México. Este conquistador espanhol viria a derrubar o império asteca e a trazer o cacau para a Europa.
Foi assim que as bebidas de cacau chegaram à Europa no século XVI, onde sofreram adaptações e ganharam popularidade. Em terras europeias a bebida também era servida apenas às elites e depressa ganhou popularidade nas cortes. O cacau tornou-se um ingrediente essencial na confeitaria e na indústria alimentar, e a bebida original deu origem ao chocolate tal como o conhecemos hoje.
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